terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Medo pode nos mover.

Um momento desses da vida em que trabalhei em uma palestra sobre o sonhos dos jovens nesta sociedade contemporânea e me deparei com um comentário sobre os grandes medos dos jovens feito por um dos participantes. Falava ele sobre a vontade de sair, dar uma volta sem se preocupar com a hora de voltar, sem que sua vida fosse postada em risco.
Na hora em que o jovem colocava seu ponto de vista, os olhos dos outros participantes fitavam nas palavras ditas, as cabeças gesticulando concordar com as afirmações. Na hora lembrei de uma música conhecida do grupo O Rappa, um trecho que assim destaca: "As grades dos concomínios são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que tá nessa prisão". Esse trecho remete justamente a essa concepçao do medo em que nossa sociedade vive hoje.
A psicologia já define como doença neuropsicológica uma famosa síndrome do Pânico que está intimamente ligada a essa cultura do medo. O bom de tudo isso é que me fez lembrar do meu tempo de garoto, onde consigo identificar momentos fortes de medo. E esse medo condicionava até as minhas escolhas.
Quando bebês damos nossos primeiros passos acompanhados pelo medo de cair. Na fase de criança temos medo de perder a companhia da mãe, aliando aí o ciúme, o egoísmo e também a tolice natural nesta fase. Minha mãe cansou de me falar que eu não deveria falar com estranho, pois eles poderiam me sequestrar, e na época estavam ocorrendo diversos sumiços de crianças na cidade. Uma vez, na minha fase adulta, estava num ônibus coletivo indo ao trabalho e vi uma cena comovente. Uma criança estava com sua mãe na parada e na hora em que o onibus em que eu estava parou para os dois, a mãe pediu para o filho entrar pela frente e ela foi por trás. O detalhe é que o onibus estava superlotado.
Logo, imaginem o desespero daquela criança entrando no coletivo ja desconfiado com tantas pessoas estranhas em sua volta e longe da sua mãe, quer seja em questões de poucos metros. Deu pra eu imaginar aquele nó na garganta, um desespero por não poder ver sua tutora, se esticando para cima e para os lados tentando vê-la, sem sucesso. Aquela criança tentou de todas as formas atravessar o corredor do ônibus, "varando" por entre as pernas dos passageiros e quando percebeu que não conseguiria, lançou, com avoz chorosa, um grito que mais parecia uma espada na alma: - Mããããããe!!! Mamãããããe!. A mãe respondeu de trás: - Estou aqui, Mateus! A mamãe vai chegar até você. A afliçao daquela criança nunca mais saiu da minha mente, pois ao ouvir a voz daquela mulher saiu de mim acredito que do coração daquela criança uma tonelada de desconforto e deu lugar à tranquilidade de estar seguro novamente.
O que isso tem a ver com a reflexão do jovem do início deste relato?
O medo é o mesmo, a insegurança do que te espera à frente, da morte, do erro, do fracasso, de estar só, de não poder sonhar ou de não poder discernir a liberdade. Hoje, como o jovem da palestra, tenho meus medos, do outro, da vida, de como será minha morte, mesmo eu não tendo medo dela, mas o nó na garganta aparece quando penso de que forma a morte virá. Como aquele menino do ônibus, também fico em pânico quando penso na possibilidade de ficar só. Para que isso não aconteça, fazemos das tripas corações para fugir do medo. Lembro mais uma vez de outra cena, mais recente, de um outro garoto que, a mãe fez o mesmo processo do primeiro já citado acima, so que dessa vez a entrada no coletivo seguiu ao contrário. A mãe entrou no onibus pela frente e o motorista não viu o menino atrás que batia na porta querendo que ele abrisse. Infelizmente o motorista não o viu e deu partida no ônibus.
Nesta, a dor foi mais forte, pois o ônibus saiu e o menino saiu desesperado correndo atrás. Bem a frente o sinal de trânsito da esquina fechou,abrindo a possibilidade dele alcançar o perseguido. Sem sucesso.
O onibus na frente, o garoto desesperado atrás e eu tentando alcançar o menino. Aquele menino correu tanto ao ponto de sumir da minha vista. Até hoje não sei se essa história teve final feliz.
A vida nos prega momentos tristes que nos pregam surpresas. As histórias das crianças acima foram escolhidas propositalmente para clarear minha ideia sobre o medo a quem lesse este texto. Na minha adolescência perdi dois irmãos, um assassinado e o outro por doença. No mesmo da morte do irmão por doença quase perco minha mãe por complicações renais. Este ano perdi minha avó paterna e meu avô materno.
Meu maior medo hoje pode ser de muitos, o de ter que viver a vida sem uma perspectiva dela mesma, de viver só, de não ter o direito de regê-la como um dia foi projetado. É triste sair de casa e ter a sensaçao de que poderá não voltar lá, ou de que para se cumprir o mal, pessoas do seu convívio estejam conspirando, quem sabe para tomar seu lugar no trabalho ou simplesmente por não querer ver sua felicidade.
 O fato é que não podemos, mesmo com os medos da vida, deixarmos nossos objetivos serem ofuscados pelas grades de proteção da música e que, ao invés de querer viver se tenha a vontade de vegetar nos condomínios dos medos, confortáveis, com o direito apenas de ver o mundo pela tv ou pela internet.
Os passos de bebês têm que ser dados, mesmo envolta de medos, pois eles sempre nos acompanharão, não tem jeito. So não podemos nos sentar num trono de um apartamento com a boca escancarada e cheia de dente, esperando a morte chegar, como cantava Raul Seixas. Nossos medos não podem nos impedir de mover o mundo.